Por que Temos Sonhos? A Ciência e as Teorias por Trás Deles

Ilustração realista do cérebro humano iluminado com áreas ativas durante o sono e ondas cerebrais visíveis no fundo

Sonhar é uma experiência universal. Basta fechar os olhos, relaxar e, de repente, surgem imagens, sentimentos e situações. Algumas fazem rir, outras assustam tanto que acordamos com o coração acelerado. Mas, afinal, por que surgem esses enredos noturnos? Para que serve tudo isso que passa pela nossa cabeça enquanto dormimos? São questões curiosas que muitas pessoas já se perguntaram, inclusive quem acompanha o site Ta Explicado.

A verdade é que o estudo dos sonhos é um campo onde ciência, comportamento, mistérios e emoções se cruzam. Dos primeiros registros de sonhos em civilizações antigas, passando por discussões profundas na psicologia, até as mais modernas pesquisas em neurociência, muita coisa já foi dita — mas há sempre algo a mais para descobrir. E se responder definitivamente por que temos sonhos ainda parece distante, há boas pistas e teorias fascinantes que, juntas, ampliam nosso entendimento sobre esse fenômeno humano tão marcante.

Nem tudo que sonhamos tem lógica… e talvez aí esteja o seu valor.

O que acontece com o cérebro durante o sono

Antes de falar do próprio sonho, vale entender o que rola no cérebro quando deitamos para dormir. O sono não é um estado único, mas sim dividido em estágios bem definidos, e cada um tem sua própria função.

  • Estágio 1 (N1): A transição da vigília para o sono. Aqui, o corpo relaxa, a respiração desacelera e o cérebro diminui o ritmo, abrindo caminho para o adormecer.
  • Estágio 2 (N2): Ondas cerebrais mais lentas e, embora o sono seja leve, já há menos consciência do ambiente.
  • Estágio 3 (N3): Conhecido como sono profundo. Aqui ocorre a recuperação física, o crescimento e renovação celular. O corpo repara aquilo que foi “usado” durante o dia.
  • REM (Rapid Eye Movement): Esta fase é a estrela da noite. É aqui que a maior parte dos sonhos vívidos acontece. O cérebro fica superativo, os olhos se movem rapidamente sob as pálpebras, mas o corpo permanece praticamente imóvel.

Curiosamente, passamos por vários ciclos desses estágios ao longo da noite. Os estágios NREM (N1, N2, N3) predominam no início do sono, mas, conforme as horas passam, o sono REM fica mais frequente e longo.

Ilustração colorida do cérebro humano mostrando estágios do sono

É no sono REM que os sonhos mais marcantes costumam aparecer e é também nessa fase que, paradoxalmente, o cérebro parece acordado apesar do corpo estar imóvel. Se você quiser entender melhor como o cérebro funciona nesses ciclos, este artigo do Ta Explicado sobre funcionamento do cérebro traz detalhes bem legais.

Por dentro dos sonhos: neurociência e psicologia

A neurociência dos sonhos

Durante o sono REM, áreas cerebrais associadas à memória, criatividade e emoção entram em ação. Já a parte responsável pela lógica e autocontrole, como o córtex pré-frontal, diminui sua atividade. Isso explica por que situações absurdas e combinações improváveis acontecem nos sonhos, sem que a gente questione (pelo menos enquanto dorme).

Pesquisas têm mostrado que os sonhos podem servir como uma espécie de “processamento de informações”. Como apontado por estudos em ciência do sono, o sono REM está diretamente ligado à consolidação da memória, organização do que foi aprendido, além da regulagem emocional. Já notou como, depois de uma noite bem dormida, fica mais fácil lembrar de algo estudado no dia anterior?

O cérebro sonha para arrumar a casa: memórias, sentimentos e até traumas.

A teoria da simulação de ameaças

E tem mais: conforme propôs o filósofo Antti Revonsuo, os sonhos podem funcionar como um campo de treinamento mental. Essa teoria da simulação de ameaças sugere que enfrentamos perigos e situações variadas durante o sono para nos prepararmos melhor para a vida real, algo que teria importância evolutiva para nossos ancestrais.

Imagina um sonho de fuga, de conflito ou situações de risco: são ensaios mentais, segundo essa hipótese, para que o cérebro desenvolva estratégias de sobrevivência.

Os sonhos sob a lente da psicanálise

Enquanto a neurociência vê os sonhos como ferramentas do cérebro para processar informações e emoções, a psicologia — especialmente a psicanálise — propõe outros olhares.

Sigmund Freud, pai da psicanálise, acreditava que os sonhos são “a estrada real para o inconsciente”. Ou seja, são manifestações mascaradas de desejos, conflitos e memórias reprimidas. Freud defendia que, ao sonhar, a mente encontra formas simbólicas de lidar com conteúdos que, durante a vigília, seriam dolorosos ou proibidos.

Já Wilfred Bion, outro pensador influente, traz a ideia de que os sonhos são ativos na formação da psique. Para ele, os sonhos não só revelam conteúdos inconscientes, mas participam ativamente da produção do que é consciente e do que é inconsciente. Em outras palavras, sonhos organizam nosso mundo interno, como mostrado em suas teorias contemporâneas.

Os pesadelos e a saúde mental

Nem sempre sonhar é agradável. Pesadelos são experiências que causam medo, ansiedade ou desconforto e podem até perturbar o sono. Para quem sofre episódios frequentes, como crianças ou pessoas com traumas, os pesadelos podem ser mais do que um mero susto noturno.

De acordo com especialistas, essas experiências refletem, muitas vezes, ansiedades e desafios do dia a dia. O neurocientista Sidarta Ribeiro acredita que o sonho é um terreno fértil para trabalhar emoções e experiências difíceis, funcionando também como mecanismo de enfrentamento ou de ajuste mental.

A privação de sono REM — fase mais intensa para os sonhos — está associada a prejuízos na saúde mental, dificuldades emocionais, perda de memória e até sintomas depressivos, conforme apontam estudos em neurociências. Logo, sonhar, inclusive ter pesadelos, faz parte de um processo natural para organizar vivências, processar traumas e manter o equilíbrio emocional.

Menina assustada na cama com expressão de medo

Sonhos recorrentes: autoconhecimento e emoções

Alguns sonhos se repetem, como um filme sem fim. Sonhar que está caindo, sendo perseguido, ou vendo lugares que nunca visitou, está entre os clássicos do repertório humano. Por que isso ocorre?

A repetição costuma sinalizar emoções ou conflitos não resolvidos. Sonhos recorrentes tendem a aparecer em momentos de dúvida ou transformação. Às vezes expressam medos, expectativas ou desejos bem particulares.

Quando o sonho se repete, o cérebro insiste num recado que não foi entendido ainda.

Esse padrão pode ser um convite ao autoconhecimento. Observar os sentimentos que aparecem nos sonhos, e o que se passa na vida desperta, ajuda a entender melhor o que o inconsciente tenta comunicar. No universo Ta Explicado, gostamos de instigar a busca pelo significado dos sonhos justamente por isso: são ferramentas para ouvir a si mesmo de um jeito diferente, menos racional e direto.

O valor da criatividade nos sonhos

Sonhos também são o terreno criativo por excelência. Muitas invenções, obras de arte, composições musicais e soluções geniais surgiram após uma noite movimentada de imagens e sensações. A ausência de censura lógica e o livre trânsito entre memória, emoções e imaginação transformam a experiência onírica em algo único.

Esse ambiente fértil, que mistura passado, presente e até lampejos do futuro, permite combinações improváveis e novas formas de ver problemas e desejos.

Homem pintando quadros coloridos inspirado em sonhos

Por que esquecemos os sonhos?

Uma questão frequente aparece por aqui e em conversas com amigos: por que os sonhos escapam da memória tão rápido? Grande parte dos sonhos é mesmo esquecida poucos minutos após acordar, embora algumas cenas fiquem marcadas.

A explicação está, novamente, em como o cérebro organiza as informações. Durante o sono, regiões envolvidas na memória de curto prazo não estão totalmente ativas, tornando a fixação dos sonhos mais difícil. Só as experiências mais emocionantes, estranhas ou traumáticas escapam desse “esquecimento natural”.

Se isso te deixar curioso, aproveite para conhecer também nosso artigo sobre por que temos sonhos estranhos, onde aprofundamos ainda mais esse fenômeno tão intrigante.

A relação entre sono, sonhos e saúde

Dormir bem, sonhar e acordar descansado estão intimamente ligados à saúde física e mental. O sono reparador promove melhor funcionamento do corpo, memória afiada e emoções mais equilibradas. Por outro lado, noites mal dormidas, excesso de pesadelos ou ausência de sono REM podem indicar problemas mais sérios, como depressão, ansiedade, ou distúrbios neurológicos.

É interessante perceber como o sono influencia outros fenômenos comuns e curiosos do corpo, como está na explicação sobre por que bocejamos quando estamos com sono. Tudo está conectado em um grande ciclo de descanso, processamento e adaptação.

Pessoa dormindo tranquilamente em cama confortável

O início dos sonhos: desde a infância

Sonhar é coisa de adulto ou das crianças também? Curiosamente, pesquisas mostram que o aprendizado onírico começa cedo, talvez ainda dentro do útero. O neurocientista Sidarta Ribeiro afirma que os sonhos são um aprendizado “lento e gradual que provavelmente começa no útero materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do corpo com o mundo exterior”.

Isso explica por que certas imagens, sensações e medos aparecem logo cedo, e como as crianças usam o sonho para lidar com tudo que estão descobrindo sobre si e o mundo. Sonhar, nesse sentido, pode ser um treino para viver.

Teorias evolutivas: por que sonhos existem?

Há quem diga que os sonhos são resquícios biológicos sem utilidade, mas encontra cada vez menos adeptos. As teorias mais recentes sugerem que sonhar trouxe (e ainda traz) vantagens evolutivas, principalmente ao preparar pessoas para enfrentar desafios, ampliar a memória, fortalecer vínculos e até regular emoções negativas.

  • Treinamento de sobrevivência: sonhar com situações de risco ajudaria nossos ancestrais a testar estratégias e decisões, inclusive fugindo de predadores e enfrentando desafios sociais.
  • Processamento emocional e social: sonhos ajudam a “simular” diálogos, conflitos e reconciliações importantes, mesmo quando não parecem lógicos.
  • Resolução criativa de problemas: a liberdade dos sonhos permite experimentar formas novas de enxergar as coisas, ampliando possibilidades.

Sonhos podem ser um laboratório para experimentar a vida sem riscos reais.

Mistérios que ainda desafiam a ciência

Apesar de todo avanço da neurociência, muita coisa sobre o universo dos sonhos segue sem resposta definitiva. Por que alguns sonhos parecem premonitórios? Como explicar que pessoas cegas também sonham? Será que animais sonham “como nós”? Existem temas que fascinam porque ultrapassam as fronteiras da ciência tradicional.

Aliás, o próprio conceito de significado dos sonhos sempre muda conforme cultura, época e sociedade. Se para uns, sonhar com água pode sinalizar renovação, para outros pode ser ansiedade, medo, pureza ou saudade.

No final das contas, como respondemos na categoria ciência do Ta Explicado, os sonhos continuarão sendo fonte de perguntas e encantamento para quem gosta de entender o funcionamento do mundo (e de si mesmo).

Conclusão: sonhos, um convite ao autoconhecimento

Os sonhos permanecem como um dos fenômenos mais intrigantes da existência humana. Eles misturam biologia, neurologia, psicologia e poesia — um verdadeiro laboratório interno, noite após noite. Seja como espaço para organizar as memórias, cuidar das emoções, exercitar a criatividade ou simplesmente se surpreender, sonhar é algo que une a todos nós de formas misteriosas e, ao mesmo tempo, profundas.

Na verdade, talvez o mais bonito seja perceber que os sonhos nos convidam toda noite para conversar de outro jeito com nós mesmos. Ou para inventar mundos, resolver pendências, rir de absurdos e até enfrentar nossos próprios medos.

Sonhar é experimentar o impossível — só por algumas horas e sem pedir licença.

No Ta Explicado, acreditamos que questionar, refletir e buscar sentido nas pequenas (e grandes) dúvidas do cotidiano, como por que sonhamos, deixa a vida mais interessante. Aproveite e continue navegando por nossos conteúdos, compartilhe suas experiências e quem sabe descubra, no próximo sonho, uma inspiração nova para entender a si mesmo — e o mundo!

Perguntas frequentes sobre sonhos

Por que sonhamos todas as noites?

Pesquisadores afirmam que sonhar é parte natural do funcionamento do cérebro durante o sono, especialmente na fase REM. Sonhamos para processar informações, regular emoções e consolidar memórias. Mesmo quando não nos lembramos, quase todas as pessoas passam por ciclos de sonhos diariamente. É uma atividade tão regular quanto respirar ou piscar.

Os sonhos têm algum significado real?

Os significados dos sonhos variam segundo a abordagem. Para a psicanálise, eles podem revelar desejos, conflitos e emoções inconscientes. Já para a neurociência, os sonhos ajudam a processar informações e emoções do dia a dia, sem uma tradução direta para símbolos. Em resumo, significado existe, mas ele depende muito de quem sonha e do contexto vivido. Nem todo sonho contém um recado oculto, mas muitos refletem o estado emocional do momento.

Como a ciência explica os sonhos?

A ciência entende os sonhos como uma atividade cerebral complexa. Durante o sono REM, áreas ligadas à emoção, criatividade e memória são ativadas, enquanto o controle lógico diminui. Sonhar pode ajudar no aprendizado, organização do cérebro, regulação emocional e simulação de situações. Pesquisas recentes mostram forte associação entre sono REM, sonhos e saúde mental, conforme o artigo da ciência do sono.

É possível controlar o que sonhamos?

Em alguns casos, sim. O chamado sonho lúcido acontece quando a pessoa percebe que está sonhando e pode influenciar, até certo ponto, a narrativa e ações no sonho. Técnicas como o diário de sonhos, meditação e o “reality check” (testes para diferenciar sonho da realidade) podem aumentar as chances de ter experiências lúcidas. Porém, para a maioria das pessoas, os sonhos surgem espontaneamente e não são controláveis na prática.

Por que às vezes não lembramos dos sonhos?

A maior parte dos sonhos é esquecida rapidamente por causa do funcionamento das áreas do cérebro responsáveis pela memória durante o sono. Acordar repentinamente durante um sonho ou passar por experiências muito marcantes tornam mais fácil lembrar. Mesmo assim, esquecer é algo normal — um mecanismo que “limpa” o conteúdo considerado irrelevante antes mesmo da consciência despertar, como explorado em matéria do Ta Explicado.

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